terça-feira, 15 de dezembro de 2015

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Mãe


Labaredas de azul nos cabelos de prata,
festivais de luas na pele envelhecida,
corropios de cor nesses olhos sem data
e nas mãos cada sulco é sinónimo de vida!

Açucenas de luz trazes em cada olhar
e acalentas nos braços um gesto de paz,
distribuindo sorrisos em cada esgar,
contrarias o ciclo que a vida te traz.

Ninho quente é o teu colo, de lágrimas feito
e das tuas entranhas brota, no teu peito
o imaculado néctar, p’los deuses querido

e a cada dia, num doce trejeito
tu provas ao mundo que é no teu leito

que o Homem surge, sempre renascido!

Delfina Vernuccio, in Utopias

domingo, 18 de outubro de 2015

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Deste mar e do outro

Brevemente nas livrarias, estará também disponível em formato e-book. 

domingo, 14 de junho de 2015

NEAPOLIS

Neapolis
Ruelas
estreitas
pregões
de varinas
janelas
abertas
carros velhos
e buzinas
números
de jogo
vozes cruzadas
num porto
de mar
roupas
estendidas
motoretas
com asas
crianças
que gritam
homens
que  abraçam
um doce
lamento
que se eterniza
numa cidade
esquecida

por Deus…

Delfina Velez Vernuccio

segunda-feira, 30 de março de 2015

Sonolência

Sonolência

Sobre os lençóis
desalinhados
do solitário leito,
anoitece
e cai o corpo,
cansado de viver…
Lentas e arrastadas,
as horas corrompem
o ato de adormecer.
Esgotado,
o sonho amanhece
com fome de vida
e o pão sabe a paz
partilhada.
Na língua envelhecida,
o ázimo sal
profana as memórias
e todo aquele mar
da cidade
onde nasceu
invade os olhos
da mulher
que os encerra
e revivadormece
pela última vez.


                                                                       Delfina Velez Vernuccio

quinta-feira, 26 de março de 2015

Mulher

Tu,
que aspiras
as dores
do teu filho acamado,
tu,que ensaboas
com a roupa
as tuas lágrimas,
tu,que nas pontas dos dedos
és o fogo
que alimenta
o forno do pão,
no poço da casa velha
lavas os cabelos
vermelhos de sangue
e no teu luto
és festa
para quem se aconchega
no teu ventre
e se aninha
nas tuas entranhas
abertas ao amor.

Delfina Vernuccio, in Fragmentos de um deus inacabado

quarta-feira, 25 de março de 2015

Mãe

Mãe


Da semente
do teu ventre
brotam fluxos
de vida
e alimentas
a humanidade.
Da seiva
dos teus seios
jorram águas
do Jordão
e dás de beber
ao novo projecto
de Deus.


In , Fragmentos de um deus inacabado, à venda em www.wook.pt

quarta-feira, 18 de março de 2015

Entre o Sono e o Sonho


A minha participação é pequenina, mas lanço o convite a todos os que quiserem estar presentes... e sim, uns aninhos depois a Literatura voltou a chamar por mim... eu aceitei o convite!!!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Os homens que não amavam as mulheres

Sinopse - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres - Trilogia Millennium - Livro 1 - Stieg Larsson

Este é o primeiro volume da trilogia de culto de mistério que se tornou num fenómeno mundial.Este livro oferece-nos uma dupla irresistível de protagonistas-detetives: o jornalista Mikael Blomkvist e a genial e perturbada hacker Lisbeth Salander. Juntos eles desvendam uma trama verdadeiramente alucinante que envolve a elite sueca.
Em 1966, Harriet Vanger, jovem herdeira de um império industrial, desaparece sem deixar rasto. Desde então,  Henrik Vanger, o velho patriarca da família, recebe, todos os anos,  uma flor emoldurada - o mesmo presente que Harriet lhe dava, até desaparecer.
Quase quarenta anos após o desaparecimento de Harriet,  o industrial contrata o jornalista Mikael Blomkvist, da revista Millenium, para conduzir uma investigação particular. Henrik oferece-lhe proteção para a Millennium (então em crise)  se o jornalista consentir em investigar o possível assassinato de Harriet. Embora a demanda de Mikael não seja muito bem vinda pela família Vanger, com o auxílio de Lisbeth Salander, que conta com uma mente infatigável para a busca de dados , ambos acabam por perceber que as perversidades da família Vanger vão muito para além do desaparecimento de Harriet. Um livro que prende o leitor, da primeira à última página. Personagens apaixonantes, uma ação mirabolante e que nos surpreende a cada linha, uma narração brilhante.

domingo, 4 de maio de 2014

Tempo de adeus...

Quando duas almas se apartam, os corpos já não são capazes de regressar...
Quando os lábios silenciam, a vida torna-se impronunciável...
Quando os caminhos se descruzam, é tempo de dizer adeus...

Delfina Vernuccio

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Tieta do Agreste, Jorge Amado


Tieta do Agreste ou o regresso da filha pródiga
A releitura destas deliciosas páginas, ao fim de tantos anos, é como o retroceder a uma infância feliz, do tempo em que as telenovelas não eram histórias ocas e repetidas, sem conteúdo, mas um espelhar artístico das grandes obras da Literatura Universal.
Jorge Amado apresenta-nos uma riqueza de personagens, cada uma mais fascinante do que a anterior… Tieta, a filha escorraçada Sant’Ana do Agreste pelo bordão do pai, José Esteves, acaba por regressar à terra onde tantas vezes se fez mulher, já não cabrita sem eira nem beira, mas viúva rica de um comendador que, apesar de nomeado (Filipe), permanece quase anónimo no desenrolar das páginas que nos surpreendem a cada instante. De passado dúbio, devido às suas desvairadas e libertinas aventuras sexuais enquanto moça, Tieta regressa rica, distribuindo presentes às mãos cheias pela comunidade que, se antes a excomungou, agora a santifica e idolatra.
Perpétua, a irmã beata, mãe de Peto e Cardo, o seminarista, engole sapos para se poder apropriar do maior número de bens possível. Nas suas atitudes pouco católicas, a fervorosa beata é das personagens mais interessantes desta narrativa.
Tieta a todos atende: a ela se deve a chegada da luz a Agreste ( a luz de Tieta), é ela que traz novo alento à vida enfadonha das mulheres e homens de Agreste e Mangue Seco, é ela que desflora Cardo, conduzindo-o a uma nova visão de Deus e dos homens.
A narrativa é enriquecida pela sede de poder, representada pela “venda” de Ascânio, homem aparentemente incorruptível, à Brastânio, empresa que pretende construir uma fábrica em Mangue Seco, ameaçando a virgindade e pureza da região com gases extremamente poluentes. A população divide-se, a possibilidade de enriquecer às custas do lixo tóxico sobe à cabeça dos personagens mais corruptíveis, mas alguns mais valorosos, quais Dona Carmosina, a cultíssima e interventiva “generala” dos Correios, mantêm-se firmes, lutando pelo bem estar do paraíso terrestre que os viu nascer.
O romance entre Ascânio Trindade e Leonora, pseudo enteada de Tieta, arrasará com qualquer perspectiva de progresso na cidade, quando, pedida em casamento, Leonora decide revelar a Ascânio a sua verdadeira vida: prostituta no Refúgio dos Lordes, em São Paulo, casa de luxo dirigida por Antonieta Esteves Cantarelli, a nossa Tieta que acaba por abandonar, mais uma vez, o seu Agreste em direcção a São Paulo. À excepção de Carmosina, a amiga de sempre, todos ( ou quase todos) os que santificaram Tieta, acabam por “condená-la”. Num derradeiro final em que a filha pródiga se vê obrigada a abandonar, uma vez mais, a terra que a vira nascer, a voz do povo sobrepõe-se, numa tabuleta manualmente e artesanalmente substituída: a rua asfaltada (também por obra e graça de Tieta), em que Ascânio mandara colocar uma placa com um sonante nome, acaba por tornar-se, pela mão do povo, na RUA DA LUZ DE TIETA.
Muito mais haveria para dizer sobre a sensualidade de personagens como Carol, Maria Imaculada, entre outras, sobre os sonhos de cada um dos personagens, sobre as teias de poder e política que se desenvolvem nestas páginas. Nada como uma leitura para revivermos, cada um ao seu jeito, tempos imemoriais de um passado que não voltará, enterrado, para sempre, em Sant’Ana do Agreste. Votos de boas leituras!
Delfina Vernuccio

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A noiva Bórgia, Jeanne Kalogridis


Narradora – Sancha de Aragão
Na igreja de San Gennaro, no dia do aniversário do rei (avô de sancha), assiste-se ao milagre associado ao sangue do Santo.
Sancha era filha ilegítima de Afonso. Ela demonstra-se, desde criança, muito ousada e pouco importada com os protocolos da corte.
Numa ocasião visita o museu dos mortos do seu avô Ferrante; ao ser surpreendida, ao invés de ser severamente punida, Sancha é gabada pela sua coragem. Ferrante admira-a, mas coloca em causa a sua fé, desmistificando-lhe o milagre de San Gennaro.
Afonso, no entanto, castigou Sancha, proibindo-a de estar com o seu irmão durante duas semanas. Sancha odiou de tal forma o seu pai que sentiu vontade de o matar.
Sancha é prometida em casamento a um duque, Onorato. A ideia não lhe desagrada e acabam por consumar o acto sexual antes do casamento. Decide ir a uma bruxa para conhecer o seu futuro: esta diz-lhe que do poder de Sancha dependerão muitos homens e nações; diz-lhe também que nunca se casará com Onorato, mas sim com o filho do homem mais importante de Itália, o qual nunca amará. Passado pouco tempo desta revelação, Sancha é informada de que deverá contrair matrimónio com Jofre Bórgia, filho do Papa Alexandre VI ( Rodrigo Bórgia). A propósito da contrariedade sentida por Sancha, que amava Onorato caetani, tecem-se algumas considerações sobre a forma pouco idónea como Rodrigo Bórgia chegara ao poder papal, subornando bispos e cardeais e eliminando o seu próprio irmão.
Assim que Ferrante morre, Afonso II é proclamado rei e Sancha casa com Jofre Bórgia que, pelo casamento, se torna príncipe de Squillace. Assim sendo, Sancha vê-se obrigada a abandonar Nápoles e, consequentemente, o seu irmão Afonso.
Interessante o facto de o rei Afonso e o cardeal terem que assistir, para testemunhar, à consumação do matrimónio.
Ao chegarem a Squillace, Sancha vê-se num castelo humilhantemente em ruínas, que tem que remodelar para viver com a dignidade de uma princesa.
É chocante e ilustrativa a cena em que Jofre e os seus amigos vindos de Roma se embebedam e passam uma orgíaca noite, no castelo, com prostitutas locais. Sancha é acordada pelos gritos de uma criança e, para além da orgia, presencia a terrível cena do cardeal Luís Bórgia a violar o pequeno Matteo. Sancha enche-se de fúria e expulsa todos do seu castelo, despertando, assim, a ira do cardeal Luís Bórgia.
O Papa, ao ouvir falar da extrema beleza de Sancha, começa a manifestar interesse em possui-la como amante (note-se que, além de seu sogro, Alexandre VI é o chefe supremo da igreja católica; tendo em consideração também o anterior episódio de violação do pequeno Matteo, pode afirmar-se que esta narrativa nos transmite uma imagem bastante chocante relativamente à igreja católica do século XV.
Em breve uma preocupação maior invade Sancha: Carlos VIII, rei de França, planeava invadir Nápoles. E mais uma vez a imagem da igreja não sai sem mácula: Sua Santidade havia prometido a D. Afonso apoiá-lo contra os franceses e acaba por traí-lo, deixando os napolitanos à mercê da sua sorte. D. Afonso parece enlouquecer com toda esta situação e é a sua filha ilegítima, que ele tanto maltratou, que demonstra a sua bravura e coragem: decide abandonar o seu reino em Squillace e partir para Nápoles para ajudar a combater o inimigo!
D. Afonso, entretanto, abandona Nápoles, levando consigo todos os seus tesouros e deixando o reino numa situação complicada. D. Ferrante II, seu filho, vê-se obrigado a assumir o reinado de Nápoles.
A partir daqui a narrativa assume um carácter de crítica exacerbada ao poder clerical. O leitor vê desfilar perante si todos os deboches do Papa, que além de possuir amantes e filhos, mantém relações sexuais com a sua própria filha, Lucrécia Bórgia. A contribuir para este cenário surge também a personagem de César Bórgia, que vai contribuir para o terrível desfecho da vida de Sancha de Aragão. César revela-se um terrível assassino, violador, sem escrúpulos, mas Sancha não resiste à sua paixão pelo cunhado, situação que vai conduzir a uma derradeira tragédia. Entre orgias romanas, traições políticas e sede de poder, a imagem da igreja é completamente reduzida a um sentimento de asco provocado no leitor. A narrativa prende-nos, não tanto pela sua qualidade literária, mas pelo enredo que, não obstante a existência de algumas cenas fictícias, nos apresenta factos históricos bem concretos. Mais um livro a não perder, cujo resumo não concluirei, para que o leitor tenha a oportunidade de se aventurar e de se questionar nesta apaixonante Itália do século XV.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Uma releitura de Os Maias


Voltar aos meandros desta obra prima do Realismo português foi uma experiência irrepetível. Foi o reconhecer de que Os Maias é, de facto, uma das grandes obras da Literatura Universal.
Mergulhar na intriga foi como entrar na máquina do tempo, retrocedendo aos meus catorze anos, quando tão orgulhosamente representei, na escola, a personagem de João da Ega, ao qual, até à data, me mantenho fiel.
O jantar no Hotel Central, para além de ser um desfile de várias personagens masculinas, representa as diversas posições político-literárias da época. O aceso “debate” entre João da Ega (defensor da Ideia Nova) e Alencar, é um dos momentos mais empolgantes deste capítulo VI, que continua a ser um dos meus predilectos.
A inigualável escrita de Eça, de uma ironia por vezes quase a roçar o mordaz, faz-me lembrar que houve épocas em que a Literatura era levada a sério e não se vendia ao kg nas prateleiras dos supermercados.
Não querendo refugiar-me no espírito sebastianista, tão tipicamente português, a verdade é que, no que à Literatura respeita, o mundo foi perdendo qualidade e rigor. Quanto a mim, quanto mais avanço no tempo mais me apetece reler os clássicos, de Eça a Victor Hugo, de Shakespeare a Wilde, num elenco de nomes que, felizmente, ainda vai sendo suficientemente grande para me preencher os olhos e o espírito de boa Literatura.
Vou, então, encerrar este capítulo e bater à porta da Vila Balzac, na Penha de França, onde o meu Ega, mefistofélico, dará um retoque luminoso à minha alegria de o reler…
Delfina Velez Vernuccio

sábado, 19 de junho de 2010

Até sempre, José!


"A morte saíu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome p'ra qualquer fim
(...)
O vento que dá nas canas do canavial
(...)
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte - o escritor morreu"
José Afonso

De José, para dignificar e homenagear José... perdeu-se um génio... a comunidade literária está de luto. A perda é sempre irrecuperável, mas a perda de um grande escritor é sempre dolorosamente mortificante. É um pedaço de cada um dos seus leitores que o acompanha nas estrelas. Da minha parte, perdi um dos meus preferidos e posso apenas consolar-me com a ideia de que o continuo a ter em mim nos livros que releio com tristeza, mas desconsolo-me de seguida por saber que o grande José não voltará a escrever...
Até sempre, querido José Saramago!

domingo, 6 de junho de 2010

O Pintor de Sombras


O pintor de Sombras, Martín, Esteban

Numa Barcelona em decadência que antecede a Guerra civil de Espanha, o leitor vê-se preso nas garras de uma série de crimes hediondos. O famoso pintor, Pablo Picasso, vê-se envolvido, de forma involuntária, nesta teia de crimes. Uma possível explicação para a sua visão do mundo, uma plausível história que nos revela este pintor de viragem, uma miscelânea de personagens que vão desde a Literatura inglesa aos pintores espanhóis…
Picasso depara-se com a sombra que o perseguirá em todos os seus quadros, tornando-o num pintor interventivo, com uma visão cruel, mas real, desta Barcelona que nos enfeitiça a cada página.
Sem grandes devaneios literários, Martín conduz-nos a um submundo que, sem dúvida, nos permite ter uma visão diferente sobre este pintor que marcou a humanidade, sem retorno.
Recomendo!
Delfina Vernuccio

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

História de Natal para o meu filho


História de Natal para o meu filho

É uma vez...
- Não, mãe, não é assim que começam os contos para crianças... Não é uma vez; “era uma vez!”
_ Bem sei, filho, mas este conto foge à regra porque a história que te vou contar ainda é e será por muito tempo!
É uma vez um menino que quer aprender música e pede um violino ao Pai Natal. Nesse ano o velho barbudo anda em discussões com o Menino Jesus, que chegou primeiro e reclama o seu devido lugar na história do Natal. É uma vez um Pai Natal com uma barba por fazer há milénios, uma barba muito maior que a do pai, enfatiado numa janota indumentária encarnada e com um saco repleto de playstations para os meninos que se portaram bem e MP4’s para os que se protaram menos bem.
- Mas eu quero um violino, mãe!
- Eu sei, filho, mas enquanto o Pai Natal e o Menino Jesus não resolverem a contenda, deixa-me contar-te a história do é uma vez.
- Está bem, mãe!
- É uma vez esse Pai Natal que invade as televisões e os centros comerciais, todo bem vestido e cheiroso, todo falinhas mansas para as mães porque tem que as convencer a colaborar na factura dos presentes, já que ele, o velho barbudo, há muito que está na idade da reforma e não ganha para os gastos. Tornou-se, com a idade, um velhote cansado, sempre com lamentações... que as crianças pedem muitas coisas, que ele já não aguenta o peso do seu saco repleto de materialismo, que as renas entraram em greve, que o seu contrato é precário, que a fábrica dos brinquedos está à beira da falência...
- O que é falência, mãe?
- Falência é quando a fábrica fecha e os gnomos ficam sem trabalho...
- Sem trabalho? Mas o Natal está quase a chegar! A fábrica não pode fechar!
- Não, filho! O Natal já chegou! Tu é que não o viste!
- E a falência, mãe?
- A falência ainda não chegou, mas deve estar para breve. Os meninos já não pedem brinquedos, filho... Brinquedos eram coisas que se faziam no meu tempo, que serviam para brincar!
- Então já não há brinquedos lá nessa fábrica?
- Há poucos, filho. Os gnomos são da geração dos elfos. Sabem fazer bolas e bonecas, sabem fazer brinquedos! Entendes?
- Não, mãe!
- Um brinquedo serve para te divertires a imaginar, para brincares ao faz de conta!
- O que é isso, mãe?
- Vês como o Natal já chegou e tu é que não o viste?
- E o Menino Jesus, mãe? Ele sabe fazer jogos para o Game Boy?
- Sabe, filho, mas não quer! É por isso que ele e o Pai Natal se zangaram! O Menino Jesus quer que se façam brinquedos para brincar, para criar, para partilhar com os amigos e o Pai Natal jura a pés juntos que esses brinquedos já não têm saída.
- E achas que eles se vão entender antes do Natal, mãe?
- Não sei, filho, mas diz-me: para que queres o violino?
- Para tocar uma música que chegue ao céu!
- Acho que mesmo que os dois não se entendam, o Menino Jesus vai arranjar maneira de nascer outra vez para ti!
- E a história que me ias contar, mãe?
- A história? É uma vez um menino que nasce numa gruta, em Belém, e pelo seu nascimento recebe quatro presentes.
- Quatro? A minha professora ensinou-me que eram três!
- Três?
- Sim! Ouro, incenso e mirra!
- A tua professora esqueceu-se de um, filho!
- Qual, mãe?
- A música do violino que chega ao céu!
- Feliz Natal, mãe!
- Feliz Natal, filho!

7 Novembro 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Para além das crenças...


Porque choca tanto o novo livro do grande Saramago? Porque, povo analfabeto que somos, nunca mais aprenderemos a distinguir Literatura e realidade, homem e escritor... Parece-me indiscutível a qualidade literária dos textos deste grande senhor das letras... não creio que o reconhecimento de tantas barbaridades cometidas pela igreja desvalorize o catolicismo ou mesmo a figura de Deus. Qual é o verdadeiro católico que não reconhece que o sacrifício humano não pode ser a expressão da vontade de Deus? Qual é o verdadeiro crente que aceita um Deus obsoleto e castigador? Por que razão o Novo Testamento ganhou terreno relativamente aos antigos escritos? Não estará Saramago apenas a mostrar aos homens aquilo que muitos pensam e não assumem? Não será, este grande nome da Literatura Mundial, alguém que o próprio Deus nomeou para nos provar o quanto erramos no caminho d'Ele? Pondere-se antes de se partir para um juízo final, que não é da nossa competência!

Para o meu pequeno Fabio

Devia dizer-te o quanto és especial mais vezes e como é reconfortante ser mãe de uma criança como tu... para alguns apenas tímido, és o meu príncipe da música e o meu professor de astronomia, anatomia, arte... como é bonito o que se pode aprender com uma criança de sete anos... e como tens sido, juntamente com a tua pequena irmã, o motor que me faz seguir sempre para além de mim... no início considerei uma maldição o que nos estava a acontecer... mais uma entre muitas... mas agora, agora sei que um filho como tu é a oportunidade de crescermos em família, de aprendermos a importância de dizermos uns aos outros que nos amamos, todos os dias, porque a vida é tão breve... apoiar-te tem sido a maior das bençãos! És verdadeiramente especial, meu pequenino!
Guardo na memória tantas palavras que um menino que conserva a linguagem só para as ocasiões especiais me foi dizendo... lembro-me quando, aos três anos de idade, me disseste que a minha escola não ensinava nada porque eu não te sabia dar a explicação científica da função dos cromossomas... e de facto, meu filho, a escola ensina cada vez menos... Nunca te soube responder qual a cor dos anéis de Saturno, não te sei explicar a existência de Deus, não sou capaz de te dizer quantos grãos de areia há na praia da Galé... mas sei que todas as tuas infinitas perguntas são importantes porque é através delas que comunicas connosco e sais da tua conchinha que armazena a pessoa única que és! Amo-te, filho!

sábado, 31 de outubro de 2009

A propóstito de ser professor...

Andar de casa às costas, qual caracol, nos últimos onze anos de vida, faz-me ponderar se quero, de facto, caracolar, lenta e interminavelmente, até ao fim dos dias...
Noites em branco, na gana de corrigir o que não tem correcção, fins de semana em que a família é relegada para quarto plano e fica arrumada dentro de casa enquanto me mumifico num recôndito escritório atafulhado de dossiers e planificações que reformulo infinitamente... os filhos que reclamam a mãe ausente, um marido que desempenha dois papéis no palco da casa: pai e mãe... mas depois surge o consolo de uma outra mãe, reconhecida, que me mostra as evidências das marcas que a minha passagem deixaram no seu rebento... e aí, aí apagam-se todas as lágrimas e a pequenina chama de ensinar renasce em mim!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Venenos de deus, remédios do diabo


Venenos de Deus, Remédios do Diabo é um livro que se lê como uma lufada de ar fresco. Neste romance somos, como Mia Couto nos tem vindo a habituar, envolvidos pela magia e atmosfera que este autor coloca nas palavras que reinventa.
Neste livro retrata-se Moçambique, ou uma pequena parte deste país, que conhecemos pela mortificante mentira que nasce e morre com a história. Fica-nos a dúvida: será o que vivemos verdadeiro? Não passará tudo de uma grande e terrível mentira? Um médico (que afinal não era bem médico) português resolve tornar-se cooperante em Vila Cacimba, zona moçambicana onde pretende encontrar a mulata Deolinda que conhecera em Lisboa e por quem se "perdera de amores". Enquanto aguarda a chegada da amada (que jamais regressará), que terá supostamente partido para frequentar um estágio em parte incerta, o médico Sidónio Rosa vai descobrindo os segredos e mistérios que envolvem a família de Deolinda – uma rede de mentiras na qual se deixa envolver, sem saber, no final, onde está a verdade de tudo o que viveu e vivenciou.
Baltasar e Munda, dois dos protagonistas, serão certamente uma homenagem aos “loucos” Baltasar e Blimunda de José Saramago.
Os pensamentos do autor são certeiros, mas pungentes. Resta-nos acreditar na epígrafe: “A imaginação é a memória que enlouqueceu” (Mário Quintana).
Saliento o bonito excerto: “Eu sou o viajante do deserto que, no regresso, diz: viajei apenas para procurar as minhas próprias pegadas. Sim, eu sou aquele que viaja apenas para se cobrir de saudades. Eis o deserto, e nele me sonho; eis o oásis, e nele não sei viver”.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Lição de tango


Neste livro, Lição de Tango,a autora se focaliza-se nas vivências de duas mulheres, com histórias de vida muito peculiares, as quais acabam por tornar-se muito unidas em virtude das circunstâncias do destino. Este romance tem por cenário a cidade de Milão onde habitam as protagonistas, Giovanna e Matilde. Ambas apresentam um passado intenso, marcado por alguns acontecimentos dramáticos que serão determinantes na construção do presente de Giovanna, uma encantadora antiquária, casada e mãe de uma jovem adolescente, e de Matilde, uma pobre idosa que vive numas águas furtadas, de onde se recusa terminantemente a ser despejada. Um rol de acontecimentos dramáticos leva a que estas duas mulheres se aproximem, sendo que Matilde ajudará Giovanna a encontrar a serenidade e a reencontrar o amor, enquanto Giovanna acompanha Matilde na sua caminhada final. Há personagens fascinantes, como Éric Junot ou Alessandro M., que nos seduzem pela sua componente misteriosa... Uma leitura de fácil digestão, sem grandes inovações narrativas... todavia, uma boa história de Verão.

domingo, 31 de maio de 2009

Cem anos de solidão


Gabriel García Márquez demarca-se como grande narrador e consegue envolver-nos em prodigiosos jogos de palavras, assentes nas inúmeras gerações de uma família que nada deve à fortuna. Cem Anos de Solidão é uma parafernália de páginas de intensidade aterradora que contrastam com suaves,mas não menos devastadores, momentos de sublime descrição.
Macondo é povoação que acompanhamos desde o seu nascimento à sua aterradora decadência. Buendía é a família com a qual nos familiarizamos ao longo de inúmeras páginas. Gentes de absolutos extremos: alguns taciturnos, outros boémios, alguns ensimesmados ou outros arruaceiros;gentes cujos nomes se confundem no desenrolar da narrativa, vidas que se entrelaçam, confundindo-se e confundindo-nos. Mortos que se passeiam, uma menina que come terra e cal das paredes, relações incestuosas, médicos invisíveis que escrevem cartas... a única e derradeira certeza é a de que todos os afluentes desaguam invariavelmente e irreversivelmente numa densa solidão.García Márquez fala-nos das relações familiares, das afinidades, de amizade e amor, da importância de cada uma delas e do modo pouco sensato como edificamos, diariamente, todo este rol de relações. Um dos livros que levaria para uma ilha deserta, se apenas pudesse escolher dez... a ler, reler e ler ainda, sempre, para a vida...

Brecht

Primeiro levaram os negros

Primeiro levaram os negros
Mas eu não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas eu não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas eu não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho o meu emprego
Também não me importei

Agora estão a levar-me
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertolt Brecht (1898-1956)

As intermitências da Morte, José Saramago


No primeiro dia do ano de um país específico (e durante um ano consecutivo) as pessoas deixam de morrer. Alguns, agonizantes, sofrem a não morte e acabam por ser levados pelos familiares para o país fronteiriço, onde a morte continuava a trabalhar. Acaba por se constituir uma máfia que enriquece à custa de transportar doentes terminais para o país vizinho, onde acabam por morrer e ser enterrados.
No final de um ano a morte apresenta-se através de uma carta de cor violeta, dirigida ao director de um jornal, na qual explica o porque da sua interrupção de matar ( elucidando o horror que seria para a humanidade se todos deixassem de morrer) e declara que a partir daquela data as pessoas voltarão a morrer, com um aviso prévio de 8 dias, através de uma carta de cor violeta que receberão, assinada pela própria morte. Alguns aproveitam os derradeiros momentos até às últimas consequências, outros entram em total desespero, mas, mesmo tentando o suicídio, nenhum consegue antecipar os 8 dias estabelecidos.
Certo dia, por qualquewr imprevisto que escapou à própria morte, uma carta enviada volta para trás 3 vezes, e o violoncelista que era suposto morrer aos 50 anos continua vivo e a dar concertos. A morte sente-se frustrada por ter falhado após tantos séculos de serviço bem concretizado e decide perseguir o violoncelista. Segue-o na sua vida, travestindo-se de mulher fatal, qua acaba por conquistar este solitário cinquentão que, há anos, desconhecia a companhia feminina, vivendo só com o seu cão. O violoncelista acaba por se apaixonar pela morte e envolve-se com ela, beijando-a, fatalmente, na boca. A morte, que jamais havia dormido durante a sua milenar vida, após essa noite de amor, acaba por adormecer... e no dia seguinte ninguém morreu.
Bem ao estilo saramaguiano, as críticas à Igreja católica não são poupadas. Um livro de uma ironia e um sarcasmo contagiantes. A não perder! E a reler!
Delfina Vernuccio

Os corvos de Avalon, Marion Zimmer Bradley


Os Corvos de Avalon
Um fantástico épico onde o poder feminino das sacerdotisas de Avalon e os rituais mágicos (associados à fertilidade da Mãe Natureza) e sensuais dos druidas nos prendem da primeira à última linha.
A salientar a força guerreira de Boudica que, em defesa das suas filhas violadas pelos soldados romanos, se deixa possuír pela Senhora dos Corvos, Morrigan, e acalenta um desejo de vingança que, batalha após batalha, a conduz à morte terrena, mas à vida eterna ao lado do seu amado rei,Prasutagos.
Interessante o percurso da sacerdotisa Lhiannon, narradora dets história, que se mantém casta, contrariando o seu amor por Ardanos, em prol do bem comum e em defesa do património cultural dos bretões. Lhiannon sobrevive a todas as batalhas e torna-se guardiã das tradições druidas na nova Bretanha Romana, como alta sacerdotisa da casa da floresta.
A magia do mundo celta no seu melhor!
A par de Salto Mortal este é, sem dúvida, o melhor dos livros de Marion Zimmer Bradley!
Delfina Vernuccio

Rio das Flores, Miguel de Sousa Tavares


A saga de uma família alentejana com origens sevilhanas, os Ribera Flores, proprietários rurais que vivem por e para a terra. Os filhos de Manuel Ribera Flores, Pedro e Diogo, são dois irmãos com maneiras de viver e de estar completamente antagónicas. Diogo vive sufocado num Portugal salazarista e, desafiando todos os valores conservadores da sua tradicional família alentejana, encanta-se de amores por Amparo, uma cigana com a qual acaba por casar. Mas a sua sede de liberdade, com o passar dos anos, fá-lo fugir para o Brasil dos seus sonhos, em busca de um Mundo Novo. E o seu medo inicial, quando afirma "tenho medo que a liberdade se torne um vício", acaba por se confirmar. Diogo troca a sua maravilhosa e sensual Amparo pela mulata benedita e deixa a terra que o viu nascer pelo novo e desconhecido Brasil. Pedro, por seu turno, mais de acordo com a ideologia do Estado Novo, ama a sua terra e defende os seus ideais até às últimas consequências. Após um desgosto de amor com a "livre" Angelina, Pedro acaba por se ver envolvido na guerra civil de Espanha, lutando pelos ideais de direita, que sempre defendeu. Curioso como Diogo, o defensor da liberdade, se limitou a abandonar o país sem lutar por nada enquanto Pedro e Amparo se sacrificaram para que ele fosse livre. Como aconteceu com Luís de Sttaw Monteiro em felizmente há luar que, ao retratar os miguelistas / absolutistas, não tinha outro intuito que o de denunciar o regime de Salazar, aqui, Miguel de Sousa Tavares, numa brilhante reconstituição dos tempos que precederam a ditadura de Salazar, parece denunciar a situação que actualmente se vive em Portugal.
Bom retrato do período em que se viveu a II Grande Guerra.
"No final sobrevivem os que não se desviaram do seu caminho".
Aconselhável a todos os amantes de boa Literatura!
Delfina Vernuccio

O quinto filho, Doris Lessing


Harriet e David, duas pessoas que primam pela diferença mantendo a castidade, decidem casar-se. Compram uma casa muito para além das suas posses e decidem ter todos os filhos que a Natureza determinar. O pai de david sustenta tudo economicamente e a mãe de harriet escraviza-se a educar os netos. Harriet e David, sempre sustentados pelos outros, fazem na sua enorme casa festas de natal e Páscoa, sempre com inúmeros convidados, que também lá passam as férias estivas. Não obstante todos estarem em desacordo com tanta procriação sustentada pelo pai de david, o problema maior só surge quando Harriet engravida do quinto filho. Toda a gravidez corre mal e Harriet torna-se desagradável para os seus permanentes convidados que, aos poucos, se vão afastando. Mas o verdadeiro afastamento só se dá após o nascimento de Ben, o quinto filho. A criatura tem uma fome insaciável e uma força desmesurada. Com pouco mais de um ano esgana o cão e o gato e absorve todas as forças de Harriet. A situação torna-se de tal forma insustentável que ben acaba por ser enviado para um instituto. Meses depois Harriet vai visitá-lo e ao deparar-se com o "filho" medicado e meio morto numa camisa de forças decide trazê-lo de volta para casa. E assim começa a destruição da família que, aos poucos, se desmorona. Dorothy, a mãe de Harriet, afasta-se definitivamente e os próprios filhos do casal vão abandonando a casa para viver com outros familiares. Harriet acaba por ficar só com Ben, que se junta a um grupo de marginais e começa a participar em assaltos. Para "salvar" um filho, esta mãe destrói toda a família. Fica-nos a ideia de que este filho não é humano. Mas saliento, sobretudo, a força anímica de uma mãe que se desfaz em prol de um filho diferente. Uma realidade muito crua, mas que nos conduz à reflexão.
Delfina Vernuccio


A minha nova descoberta... o escritor que durante anos me recusei a ler conseguiu surpreender-me pelo seu magnífico domínio linguístico e pela forma como joga com as palavras, recriando-as. Magnífico! Só pararei quando tiver lido todos os livros. A arte moçambicana no seu melhor!!! Adoro! Fica um excerto para partilhar... " A fonte: ninho de água. Dali ela se constitui, emplumando-se ao modo de ser ave. Primeiro se pintainha, levantando o bico faminto à chuva que desce. A água nasce de ser plantada? Ou de pedra que se converte, lavando o tempo em suas mesmas lágrimas? Ninguém sabe, ninguém nunca viu. O parto da água não tem testemunha: aparecemos sempre depois."
Delfina Vernuccio

sábado, 11 de abril de 2009



Para sempre... a imagem fala por si...

quarta-feira, 25 de março de 2009

Coordenadoras Biblioteca EBSA - eu e Cidália


Depois de passado o nervoso miudinho, soube bem ter por perto algumas caras conhecidas...

Uma noite memorável!

Os meus queridos alunos, sempre presentes nos momentos importantes...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O que ando a ler

A vida num sopro, José Rodrigues dos Santos

Uma maneira bonita de mergulharmos nas vivências dos nossos pais... o fôlego narrativo conduz-nos à leitura ininterrupta e na última página ficará, certamente, a sensação de que se quer sempre mais...