sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A noiva Bórgia, Jeanne Kalogridis


Narradora – Sancha de Aragão
Na igreja de San Gennaro, no dia do aniversário do rei (avô de sancha), assiste-se ao milagre associado ao sangue do Santo.
Sancha era filha ilegítima de Afonso. Ela demonstra-se, desde criança, muito ousada e pouco importada com os protocolos da corte.
Numa ocasião visita o museu dos mortos do seu avô Ferrante; ao ser surpreendida, ao invés de ser severamente punida, Sancha é gabada pela sua coragem. Ferrante admira-a, mas coloca em causa a sua fé, desmistificando-lhe o milagre de San Gennaro.
Afonso, no entanto, castigou Sancha, proibindo-a de estar com o seu irmão durante duas semanas. Sancha odiou de tal forma o seu pai que sentiu vontade de o matar.
Sancha é prometida em casamento a um duque, Onorato. A ideia não lhe desagrada e acabam por consumar o acto sexual antes do casamento. Decide ir a uma bruxa para conhecer o seu futuro: esta diz-lhe que do poder de Sancha dependerão muitos homens e nações; diz-lhe também que nunca se casará com Onorato, mas sim com o filho do homem mais importante de Itália, o qual nunca amará. Passado pouco tempo desta revelação, Sancha é informada de que deverá contrair matrimónio com Jofre Bórgia, filho do Papa Alexandre VI ( Rodrigo Bórgia). A propósito da contrariedade sentida por Sancha, que amava Onorato caetani, tecem-se algumas considerações sobre a forma pouco idónea como Rodrigo Bórgia chegara ao poder papal, subornando bispos e cardeais e eliminando o seu próprio irmão.
Assim que Ferrante morre, Afonso II é proclamado rei e Sancha casa com Jofre Bórgia que, pelo casamento, se torna príncipe de Squillace. Assim sendo, Sancha vê-se obrigada a abandonar Nápoles e, consequentemente, o seu irmão Afonso.
Interessante o facto de o rei Afonso e o cardeal terem que assistir, para testemunhar, à consumação do matrimónio.
Ao chegarem a Squillace, Sancha vê-se num castelo humilhantemente em ruínas, que tem que remodelar para viver com a dignidade de uma princesa.
É chocante e ilustrativa a cena em que Jofre e os seus amigos vindos de Roma se embebedam e passam uma orgíaca noite, no castelo, com prostitutas locais. Sancha é acordada pelos gritos de uma criança e, para além da orgia, presencia a terrível cena do cardeal Luís Bórgia a violar o pequeno Matteo. Sancha enche-se de fúria e expulsa todos do seu castelo, despertando, assim, a ira do cardeal Luís Bórgia.
O Papa, ao ouvir falar da extrema beleza de Sancha, começa a manifestar interesse em possui-la como amante (note-se que, além de seu sogro, Alexandre VI é o chefe supremo da igreja católica; tendo em consideração também o anterior episódio de violação do pequeno Matteo, pode afirmar-se que esta narrativa nos transmite uma imagem bastante chocante relativamente à igreja católica do século XV.
Em breve uma preocupação maior invade Sancha: Carlos VIII, rei de França, planeava invadir Nápoles. E mais uma vez a imagem da igreja não sai sem mácula: Sua Santidade havia prometido a D. Afonso apoiá-lo contra os franceses e acaba por traí-lo, deixando os napolitanos à mercê da sua sorte. D. Afonso parece enlouquecer com toda esta situação e é a sua filha ilegítima, que ele tanto maltratou, que demonstra a sua bravura e coragem: decide abandonar o seu reino em Squillace e partir para Nápoles para ajudar a combater o inimigo!
D. Afonso, entretanto, abandona Nápoles, levando consigo todos os seus tesouros e deixando o reino numa situação complicada. D. Ferrante II, seu filho, vê-se obrigado a assumir o reinado de Nápoles.
A partir daqui a narrativa assume um carácter de crítica exacerbada ao poder clerical. O leitor vê desfilar perante si todos os deboches do Papa, que além de possuir amantes e filhos, mantém relações sexuais com a sua própria filha, Lucrécia Bórgia. A contribuir para este cenário surge também a personagem de César Bórgia, que vai contribuir para o terrível desfecho da vida de Sancha de Aragão. César revela-se um terrível assassino, violador, sem escrúpulos, mas Sancha não resiste à sua paixão pelo cunhado, situação que vai conduzir a uma derradeira tragédia. Entre orgias romanas, traições políticas e sede de poder, a imagem da igreja é completamente reduzida a um sentimento de asco provocado no leitor. A narrativa prende-nos, não tanto pela sua qualidade literária, mas pelo enredo que, não obstante a existência de algumas cenas fictícias, nos apresenta factos históricos bem concretos. Mais um livro a não perder, cujo resumo não concluirei, para que o leitor tenha a oportunidade de se aventurar e de se questionar nesta apaixonante Itália do século XV.

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