quinta-feira, 9 de julho de 2009

Venenos de deus, remédios do diabo


Venenos de Deus, Remédios do Diabo é um livro que se lê como uma lufada de ar fresco. Neste romance somos, como Mia Couto nos tem vindo a habituar, envolvidos pela magia e atmosfera que este autor coloca nas palavras que reinventa.
Neste livro retrata-se Moçambique, ou uma pequena parte deste país, que conhecemos pela mortificante mentira que nasce e morre com a história. Fica-nos a dúvida: será o que vivemos verdadeiro? Não passará tudo de uma grande e terrível mentira? Um médico (que afinal não era bem médico) português resolve tornar-se cooperante em Vila Cacimba, zona moçambicana onde pretende encontrar a mulata Deolinda que conhecera em Lisboa e por quem se "perdera de amores". Enquanto aguarda a chegada da amada (que jamais regressará), que terá supostamente partido para frequentar um estágio em parte incerta, o médico Sidónio Rosa vai descobrindo os segredos e mistérios que envolvem a família de Deolinda – uma rede de mentiras na qual se deixa envolver, sem saber, no final, onde está a verdade de tudo o que viveu e vivenciou.
Baltasar e Munda, dois dos protagonistas, serão certamente uma homenagem aos “loucos” Baltasar e Blimunda de José Saramago.
Os pensamentos do autor são certeiros, mas pungentes. Resta-nos acreditar na epígrafe: “A imaginação é a memória que enlouqueceu” (Mário Quintana).
Saliento o bonito excerto: “Eu sou o viajante do deserto que, no regresso, diz: viajei apenas para procurar as minhas próprias pegadas. Sim, eu sou aquele que viaja apenas para se cobrir de saudades. Eis o deserto, e nele me sonho; eis o oásis, e nele não sei viver”.